28.1.20

Sobre Memórias, Sonhos, Reflexões, de C. G. Jung




«E se, em geral, as memórias já são um espaço privilegiado para qualquer escritor exibir aquilo que de melhor tem no currículo, mais ainda o são para quem se dedica a analisar a psicologia humana. As confissões de Santo Agostinho não são apenas o relato completo da sua conversão; toda a passagem do mundo da retórica para o Cristianismo é um tratado sobre a estrutura do desejo. Da mesma forma, as Confissões de Rousseau são o ato de que o Emílio é a potência: o Bom Selvagem ganha forma no próprio Rousseau. 
Com Jung o caso é semelhante: além de serem um registo interessante sobre a vida de um pensador de primeira, estas Memórias, Sonhos, Reflexões são um importantíssimo tratado prático de psicanálise. É certo que é interessante seguir o seu percurso na Suíça, de um rapazito pobre propenso a neuroses ao interesse pela metafísica, motivado pela teologia reformada e por Schopenhauer e Kant, ou das suas pequenas irritações com a atmosfera escolar ao estudo de medicina; mas estas memórias têm especial interesse por representarem a análise de quem analisa. Jung nunca perde o foco de analista, pelo que tudo na sua vida é analisado à luz de coisas muito maiores.» [Carlos Maria Bobone, Observador, 25/1/2020. Texto completo em https://observador.pt/2020/01/25/carl-jung-e-o-fascinio-das-boas-memorias/ ]

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