Na série Escritoras Esquecidas do Jornal de Negócios, de 20 de Dezembro de 2019, Susana Moreira Marques escreve sobre Natália Nunes:
«“Ando, neste mundo, à procura de alguma coisa que talvez não seja deste mundo”, escreve Natália Nunes em Autobiografia de Uma Mulher Romântica.
É uma frase bonita e podia servir de epitáfio possivelmente a qualquer artista. Mas Natália Nunes não gostava de frases bonitas por serem bonitas, e, apesar de ter vivido até aos 96 anos, não se deve ter debruçado muito sobre a questão dos epitáfios.
Autobiografia de Uma Mulher Romântica foi o primeiro romance que publicou, em 1955 — depois do extraordinário livro de memórias, Horas Vivas, sobre a Sua Infância —, e, nele, já aparece uma personagem que parece ter sido feita para se desiludir, isto é, para esperar mais, porque só se desilude quem espera muito.
O livro tem uma escrita límpida, sem floreados, com sentimento mas sem se deixar tornar sentimental. Mais tarde, Natália Nunes escreveria romances com estilos menos convencionais, com estruturas inovadoras, romances sem um narrador em quem confiar, sem uma voz única a proferir julgamentos, romances polifónicos, em que as personagens estão à beira da colisão, mais do que em diálogo.
A sua obra estaria sempre povoada de mulheres fortes, bastantes delas independentes — talvez demasiado independentes para a sociedade onde vivem —, com ideias próprias, muitas delas insatisfeitas, à procura de realizarem um sonho, um amor, uma ideia, um trabalho, à procura de alguma coisa que lhes parece sempre escapar.
Apetece dizer que são mulheres parecidas à própria autora, mas seria talvez precipitação.»
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