21.5.19

Sobre À Beira Do Mar De Junho, de João Miguel Fernandes Jorge




«Que mar é este? Não sabemos. Alusões esparsas a Silves ou ao Infante D. Henrique podem remeter para o Algarve, mas isso na verdade não importa; neste livro tudo é “questão de água e terra!, no sentido territorial-alegórico, mas não no sentido geográfico-biográfico. Como acontece em tantos poemas estivais, um dos territórios em causa é o da infância e juventude, uma velha casa de família, um colega de escola, uma recordação: “Dormimos sobre a infância / sobre os lugares da juventude / a paisagem / as palavras que dissemos // não podiam ser noutro país / nem noutro corpo / nem noutro século.” O título indica essa indistinção entre sítios e épocas, e muitos versos são continuidade a essa indistinção: “O lugar de meu pai / o lugar da sua voz no vento da idade”. Outros poemas sugerem encontros, perigos, pressas, alegrias, e usam uma primeira pessoa do plural que talvez seja do domínio familiar, talvez do domínio amoroso, talvez do âmbito nacional-identitário. Elípticos mas evocativos, aforísticos, os poemas recorrem a mitologias universais, entre as quais as do mar e do Verão, mesmo quando há remissões para a Bíblia ou para os camonianos rios da Babilónia. Num extraordinário posfácio à primeira edição do livro, Joaquim Manuel Magalhães definia estes processos poéticos como um “diálogo interior com o mundo”, uma “subjectivização da realidade” que “torna ‘nenhuma coisa’ todas as coisas”.» [Pedro Mexia, E, Expresso,18/5/2019]

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