8.4.19

Sobre As Novas Rotas da Seda, de Peter Frankopan




«Antes de o leitor pensar que estamos perante mais um livro que repete opiniões já muitas vezes ouvidas sobre uma criatura fatalmente comentável, diga-se que a abordagem de Frankopan se torna interessante justamente pela perspetiva de base que ele adota: o centro do mundo já não está no Ocidente, pesem todos os sentimentos mal avisados de nostalgia que volta e meia ressurgem, e dos quais Trump é um sintoma. Mal avisados, entre outras razões, porque a realidade nunca foi tão idílica como se julga, embora um estado de ignorância crassa possa levar a dizer isso. Os efeitos dessa irresponsabilidade são considerados em relação às alianças que ele proporciona ou reforça (entre a Turquia e o Irão, por exemplo) e aos riscos que certas ações potenciam (uma crise económica na China levaria a uma crise internacional de vastíssimas proporções). Frankopan está muito longe de ser um apologista da China, e muito menos um apologista cego. A Iniciativa Faixa e Rota (IFR), que integra um projeto maciço de construção de infraestruturas em muitos países, além das questões de influência política traz problemas graves de endividamento. Também potencia a corrupção, com o esbanjamento e a incompetência épica que ele costuma proporcionar — vejam-se os motivos triviais de exibicionismo que os próprios responsáveis locais alegaram para justificar o gasto de 1,5 mil milhões de dólares num porto novo em Turkmenbashi, no Turquemenistão.» [Luís M. Faria, E, Expresso, 6/4/2019]

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