7.12.18

A chegar às livrarias: O Pangolim e Outros Poemas, de Marianne Moore (tradução e posfácio de Margarida Vale de Gato)





«QUANDO COMPRO QUADROS

ou, mais perto da verdade,
quando contemplo aquilo de que podia imaginar-me proprietária,
atenho-me ao que me agradaria nos meus momentos comuns,
a sátira à curiosidade quando não se percebe nada além
da intensidade do ânimo;
ou então o contrário — a antiguidade, a caixa de chapéus medieval
decorada com galgos de cinturas adelgaçadas como ampulhetas
e veados e pássaros e pessoas sentadas;
pode até ser só um quadrado de parquet; a biografia literal talvez,
com letras bem espaçadas numa superfície de pergaminho;
uma alcachofra com seis tons de azul; o tripartido hieróglifo de patas de narceja;
a grade de prata frente ao túmulo de Adão, ou Miguel agarrando Adão pelo pulso.
Um juízo demasiado intelectual sobre esta ou aquela qualidade desvia-nos do prazer.
Não se deve querer desarmar nada; nem honrar absolutamente o consensual triunfo —
o que se diz ser grande porque outra coisa é pequena.
Em suma é assim: seja qual for a obra,
deve “penetrar com luminosos vislumbres na vida das coisas”;
deve reconhecer as forças espirituais que a conceberam.»

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