23.1.18

Elena Ferrante fala da sua escrita, da questão do assédio, e inicia colaboração no The Guardian




Elena Ferrante acaba de conceder a primeira entrevista francesa à Nouvel Observateur (18/1/2018), a propósito do último volume da sua tetralogia napolitana.
A autora que se recusa a revelar a sua identidade é capa do Nouvel Observateur, que a apresenta como «a desconhecida com dois milhões de leitores».
O entrevistador Didier Jacob começa o seu trabalho afirmando que «este é o livro que faltava para que uma romancista ainda desconhecida há sete anos se torne um das personalidades mais destacadas deste início do século».
Elena Ferrante, que anuncia estar a escrever um livro que ainda não sabe se ria publicar, afirma que não acha que as vidas de Lila e Lena estejam muito afastadas das que conhece e de outras mulheres por todo o mundo, em particular as que nasceram pobres.

«A força dos Weinsteins é a de não terem qualquer vergonha»
A propósito do caso Weinstein, a criadora de A Amiga Genial, romance em que as mulheres combatem muitas vezes em situação de desigualdade, Ferrante afirma: «o caso Weinstein trouxe à luz do dia o que as mulheres sempre souberam e sempre calaram mais ou menos. Apesar das aparências, mesmo no Ocidente a dominação patriarcal é ainda muito forte: todas nós temos experiência disso, nos locais mais variados, sob as mais diversas formas, sofrendo dia após dia a humilhação de ser a vítima muda, a cúmplice amedrontada ou a rebelde silenciosa, quando criticamos as vítimas em vez de acusar os violadores. Paradoxalmente, não vejo grandes diferenças entre as mulheres do bairro napolitano de que falei e as actrizes de Hollywood ou as mulheres cultas e sofisticadas que trabalham nos níveis mais elevados do nosso sistema socioeconómico. Elevar a voz, dizer “me too”, parece-me uma coisa boa, mas apenas se guardarmos o sentido das proporções: os excessos prejudicam as causas justas.»

«Escreve-se melhor quando se está apaixonado»
Ferrante afirma que «quando se está apaixonado se escreve muito bem! De um modo geral, quando não se é atravessado pela vida, sobre que é que se haveria de escrever? Passar o tempo concentrado apenas na escrita é uma aspiração de adolescentes e de adolescentes muito tristes».
A autora de A Amiga Genial termina a entrevista afirmando que «a história de Lila e Lena está terminada, mas tenho outras histórias em mente, espero conseguir escrevê-las, mas não sei se as publicarei».


A primeira crónica de Elena Ferrante no The Guardian pode ser lida aqui.

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