20.8.13

A chegar às livrarias: Henrique IV, Parte I e Parte II, de William Shakespeare





«Sir John Falstaff, criado em Henrique IV Parte I, mantido em Henrique IV Parte II e feito personagem central, diz-se que a pedido da rainha Isabel I, em As Alegres Comadres de Windsor, tornou-se de facto uma das mais célebres figuras da imensa galeria dramática de Shakespeare. A grande popularidade das duas partes de Henrique IV deve-se principalmente a esta personagem, tendo em inícios do século XVII o seu nome chegado mesmo a substituir o nome do Rei no título das peças. Falstaff é uma daquelas raras personagens literárias que adquirem vida própria, concentrando em si as atenções e subalternizando nesse processo os textos de onde provêm, sendo vários os testemunhos de encenações, nos séculos XVIII e XIX, que desvalorizam a acção e as personagens históricas da peça em função do relevo dado à principal personagem cómica. Outro sinal desta projecção de Falstaff para fora dos seus limites literários consiste na aglutinação de cenas das peças onde ele intervém de molde a construir uma outra obra onde ele é personagem principal, como acontece com a ópera Falstaff, de Verdi, ou com o filme Chimes at Midnight (intitulado Falstaff em Inglaterra), de Orson Welles.» [Da Introdução de Gualter Cunha]
 


 

«A atenção prestada em Henrique IV Parte II ao quotidiano popular articula-se com a maior importância adquirida pela figura de Falstaff, quando comparada com a sua presença em cena na Parte I. Como é afirmado num texto crítico recente, nas cenas de Falstaff, Shakespeare «dramatiza uma história social da outra Inglaterra — com as suas tabernas, os seus bordéis e as suas quintas» (Bulman 169). No que respeita a tabernas e bordéis, a primeira parte já nos tinha dado a imagem de uma vida social, centrada na figura de Falstaff, caracterizada pela venalidade e pela libertinagem, mas que ao mesmo tempo era equilibrada pela representação de um mundo despreocupado e folgazão, por vezes carnavalesco, numa espécie de projecção imaginária de uma velha e alegre Inglaterra, uma “merry England” que épocas mais recentes tendem a vislumbrar no período isabelino mas que, enquanto imaginário de um tempo sempre passado, Shakespeare localiza aqui no período de Henrique IV, cerca de dois séculos antes do seu próprio tempo. Nesta segunda parte, contudo, deixa de se notar aquele equilíbrio, com os pratos da balança a penderem agora para a apresentação de um mundo que mais aparece como um submundo.» [Da Introdução de Gualter Cunha]

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