«É como se estivesse assombrado por uma imagem, por aquela Ofélia morta. Na minha tetralogia ora está viva ora está morta. Como se o poeta tivesse o poder de matar e ressuscitar, o poder de se apropriar daquela imagem, daquela pessoa. No fundo, é o desejo de possuir o Outro que atravessa os livros. E falo da sua impossibilidade, que cria a violência e a crueldade. Tudo isto é uma assombração, uma visão.»
«O fascínio por essa imagem da Ofélia pode mesmo ter que ver com o fascínio que sempre tive pela morte. Talvez por ter nascido numa terra de luto, a Nazaré, e ter vivido muito próximo dessas imagens de choro e dor, das mulheres dos pescadores vestidas de negro. Era um mundo muito forte, que me amedrontava. Foi só transpor esse quotidiano de vida para o meu universo literário. A escrita é nesse sentido o prolongamento da minha infância. Por isso, a morte, o mal, a imperfeição estão em toda a minha obra. Daí que as minhas personagens todas tenham defeitos e que as minhas peças nunca tenham um happy end. Não o procuro. Simplesmente, talvez tenha um certo medo da perfeição. Se a minha poesia fosse perfeita, acabava.» (JL 24MAR)
Sem comentários:
Enviar um comentário