O melhor presente de Natal para Harper Lee
«Para uma sulista deslocada, o Natal em Nova Iorque pode representar um momento melancólico, não porque a atmosfera seja diferente para quem está longe de casa, mas porque é familiar: os nova‑iorquinos às compras demonstram a mesma compenetração focada dos pachorrentos sulistas; as bandas do Exército de Salvação e os cânticos de Natal são iguais em todo o mundo: nesta época do ano, as ruas molhadas de Nova Iorque brilham com a mesma chuvinha molha‑tolos que ensopa os campos invernais do Alabama. […]
Em Nova Iorque, costumava passar o dia, ou o que sobrasse do dia, com os meus amigos mais próximos, de Manhattan. […]
Os Natais que passávamos juntos eram simples. Limitávamos os presentes a coisas baratinhas e a uma espécie de competição. Quem é que conseguiria encontrar as prendas mais extravagantes pelo menor preço? O verdadeiro Natal era para as crianças, uma ideia que eu considerava absolutamente aceitável, porque há muito deixara de especular sobre o significado do Natal enquanto algo mais do que um dia dedicado às crianças. O Natal para mim era só uma memória de antigos amores e salas vazias, algo que enterrara juntamente com o passado e que estava sujeito a uma vaga e dolorosa ressurreição uma vez por ano.
Houve, no entanto, um Natal que foi diferente. Eu tive sorte.» [De «O Natal para Mim», in A Terra da Eternidade Radiosa, de Harper Lee, tradução de José Mário Silva]
A Terra da Eternidade Radiosa e outras obras de Harper Lee estão disponíveis em https://www.relogiodagua.pt/autor/harper-lee/


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