José Cardoso Pires nasceu a 2 de Outubro de 1925, em São João do Peso, no distrito de Castelo Branco, pelo que se iniciam hoje as comemorações do centenário do seu nascimento.
Entre as iniciativas previstas conta-se a reedição de Lavagante, que deu origem ao filme, com argumento de António-Pedro Vasconcelos e realização de Mário Barroso, que se estreia hoje.
Cardoso Pires e a sua obra serão igualmente recordados no dia 10 de Outubro, no Festival FOLIO, às 15h00, com a presença da sua filha Ana Cardoso Pires, dos seus editores e da escritora Ana Margarida de Carvalho.
José Cardoso Pires passou a infância e a adolescência em Lisboa.
Frequentou a Faculdade de Ciências, mas trocou as Matemáticas pela Marinha Mercante. Exerceu depois diversas profissões e por um breve período acompanhou o grupo surrealista de Alexandre O’Neill e Cesariny.
Aos 24 anos, publicou Os Caminheiros e Outros Contos, narrativas que se distinguem do neo-realismo então dominante.
É também em 1949 que se torna chefe de redacção da revista Eva, início de uma actividade editorial paralela à da escrita que se prolongou no Almanaque e na Gazeta Musical e de Todas as Artes na Ulisseia, e como director-adjunto do Diário de Lisboa.
As Histórias de Amor saíram em 1952. Assimilando influências de escritores norte-americanos como Hemingway e Faulkner, Cardoso Pires confirmava um espaço próprio na literatura portuguesa.
Em 1958, surge o seu primeiro romance, O Anjo Ancorado, e, em 1960, Cartilha do Marialva, um ensaio que seria referencial da sua obra ficcional.
A partir daí, Cardoso Pires editaria, com um intervalo de cerca de cinco anos, O Hóspede de Job, que recebeu o Prémio Camilo Castelo Branco, e aquela que é talvez a sua obra principal, O Delfim, em 1968. Tal como outros romances seus, este distinguia-se por uma escrita despojada e uma investigação que de modo deliberado transparecia em notas de pé de página.
Em 1969, partiu para Londres, leccionando Literatura Portuguesa e Brasileira no King’s College durante dois anos.
Em termos políticos, colaborava com o PCP e outras forças de esquerda nas lutas contra o regime, publicando Dinossauro Excelentíssimo em 1972.
Entretanto, a sua obra diversificara-se pela literatura infantil, com O Burro-em-Pé e A República dos Corvos.
Em 1977, saiu E agora, José?, título inspirado num poema de Drummond de Andrade.
No teatro, editara O Render dos Heróis em 1960 e, em 1980, resultado de uma investigação sobre os meandros da PIDE, a peça Corpo-Delito na Sala de Espelhos, encenada pelo Teatro Aberto.
Balada da Praia dos Cães, de 1982, baseia-se num episódio da luta contra a ditadura e obteria o Grande Prémio de Romance e Novela da APE. Seguiu-se-lhe Alexandra Alpha.
Uma década depois, um AVC inspirou-lhe uma narrativa clínica, De Profundis, Valsa Lenta, revelando que era capaz de se manter escritor até nos momentos mais difíceis da vida. A obra recebeu o Prémio D. Dinis e o Prémio da Crítica da APCL. Em 1991, foi-lhe atribuído o Prémio Internacional União Latina e o Prémio Pessoa em 1997. Entretanto, as suas obras iam sendo traduzidas em diversas línguas e analisadas por críticos como Mário Dionísio, Óscar Lopes, Alexandre Pinheiro Torres, Maria Lúcia Lepecki e Eduardo Prado Coelho.
Dois romances seus foram adaptados ao cinema, Balada da Praia dos Cães, por Fonseca e Costa, em 1987, e O Delfim, por Fernando Lopes, em 2002.
José Cardoso Pires morreu a 26 de Outubro de 1998, em Lisboa.
Lavagante, Balada da Praia dos Cães e outras obras de José Cardoso Pires estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/jose-cardoso-pires/


Sem comentários:
Enviar um comentário