«Um livro de uma urgência estranha. Os Meus Amigos constrói-se a parir da ideia de exílio e convoca feridas antigas num território só aparentemente localizado. Não é no Médio Oriente, é na intimidade.
IL — Este romance é profundamente marcado pelo exílio. Enquanto escritor, o que lhe interessa neste tema?
HM — Há um problema com a palavra. A palavra tornou-se demasiado adocicada no sentido romântico, a ponto de já não ter a eficácia de que precisamos. À medida que isso aconteceu com a palavra, a experiência real tornou-se menos romântica, tornou-se bastante pertinente e urgente. Hoje em dia, muitas pessoas passam por uma experiência de exílio, no sentido mais óbvio de estarem deslocadas das suas casas devido a guerras, catástrofes ambientais, conflitos económicos… Mas mesmo os que entre nós não saíram de casa, que permaneceram no mesmo lugar — rodeados pelas mesmas pessoas — experimentaram alguma coisa muito idêntica a uma cultura de exílio, uma vez que tudo se tornou menos seguro e estável.
A literatura sempre foi fascinada pelo exílio, mas consciente de que, em especial se pertencemos à tradição abraâmica, a nossa imaginação e a nossa ligação às histórias são influenciadas pela mãe de todas as histórias, a de Adão e Eva e do seu deslocamento. Não apenas quando são expulsos do paraíso, mas também quando os primeiros retratos deles nos paraísos são retratos de exilados. Ou seja, a literatura tem reflectido sobre essa coisa fascinante que é a distância entre o nosso sentimento mais íntimo de nós mesmos e do que nos rodeia e o facto de que, por vezes, essas duas coisas se correspondem.» [Entrevista a Hisham Matar, Isabel Lucas, ípsilon, Público, 5/9/25: https://www.publico.pt/2025/09/06/culturaipsilon/entrevista/hisham-matar-literatura-importante-politica-2145776?ref=culturaipsilon&cx=stories_cover__important_c--901214]
Os Meus Amigos, de Hisham Matar (tradução de Maria Beatriz Sequeira), está disponível em https://www.relogiodagua.pt/produto/os-meus-amigos/


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