«Vermelho e verde.
A ti não te diz nada, mas para mim há tanto nessas duas cores, uma espécie de voragem que nos atrai nelas, e eu penso que isto é uma das razões por que me tornei escritor, porque eu sinto essa voragem tão forte, e compreendo que é importante, mas não tenho palavras para a expressar, e por isso não sei o que é. Tentei, e capitulei. Os livros que publiquei são essa capitulação. Um dia poderás lê‐los, e talvez possas entender o que quero dizer. O sangue que circula nas veias, a erva que cresce na terra, as árvores, oh as árvores que se agitam no vento.
Esta maravilha, que em breve irás encontrar e poder ver, é muito fácil de perder de vista, e existem tantas maneiras de o fazer como existem seres humanos. É por isso que escrevo este livro para ti. Quero mostrar‐te o mundo tal como é, aqui mesmo à nossa volta, permanentemente. Só o fazendo posso eu mesmo captá‐lo.
O que é que faz a vida ser digna de ser vivida?» [«Carta a uma filha que vai nascer», No Outono, de Karl Ove Knausgård, trad. Pedro Porto Fernandes, p. 18]
No Outono (trad. Pedro Porto Fernandes) e outras obras de Karl Ove Knausgård estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/karl-ove-knausgard/


Sem comentários:
Enviar um comentário