7.9.25

De Clepsydra, de Camilo Pessanha

 «SONETO DE GELO


Ingenuo sonhador — as crenças d’oiro

Não as vás derruir, deixa o destino

Levar-te no teu berço de bambino,

Porque podes perder esse thesoiro.


Tens na crença um pharol. Nem o procuras,

Mas bem o vês luzir sobre o infinito!...

E o homem que pensou, — foi um precito,

Buscando a luz em vão — sempre ás escuras.


Eu mesmo quero a fé, e não a tenho, 

— Um resto de batel — quizera um lenho, 

Para não affundir na treva immensa,


O Deus, o mesmo Deus que te fez crente…

Nem saibas que esse Deus omnipotente

Foi quem arrebatou a minha crença.»

[Clepsydra, p. 79]


Clepsydra, de Camilo Pessanha, está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/clepsydra/

Sem comentários:

Enviar um comentário