«SONETO DE GELO
Ingenuo sonhador — as crenças d’oiro
Não as vás derruir, deixa o destino
Levar-te no teu berço de bambino,
Porque podes perder esse thesoiro.
Tens na crença um pharol. Nem o procuras,
Mas bem o vês luzir sobre o infinito!...
E o homem que pensou, — foi um precito,
Buscando a luz em vão — sempre ás escuras.
Eu mesmo quero a fé, e não a tenho,
— Um resto de batel — quizera um lenho,
Para não affundir na treva immensa,
O Deus, o mesmo Deus que te fez crente…
Nem saibas que esse Deus omnipotente
Foi quem arrebatou a minha crença.»
[Clepsydra, p. 79]
Clepsydra, de Camilo Pessanha, está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/clepsydra/


Sem comentários:
Enviar um comentário