1.5.25

Sobre Livro da Doença, de Djaimilia Pereira de Almeida

 «Portador, não: portadora. A intensidade deste livro especial na obra de Djaimilia é que ele se apresenta, mais que qualquer outro, como livro que só Djaimilia (ou Mila, no diminutivo com que várias vezes se autodesigna) pode ter escrito. É aquela nova obra que fala da morte própria enquanto experiência de vida ou de sobrevida, que também se dá como reencontro da escrita: “Do outro lado do silêncio, encontrei a pessoa que escreve estas linhas. Uma deu lugar a outra, embora a outra permaneça. […] Não sei ao certo quem diz ‘a pessoa que escreve estas linhas’. Quem fui é hoje uma pessoa sem lugar.”

Atravessar o silêncio não é para todas. (Para quem escreve é o perigo máximo, talvez.) Aqui, escrever e ser mulher são uma história sem direito nem avesso, uma maneira inextricável de montar a assinatura ameaçada de morte pela doença, tanto como pela terapia: “Não sei se o estilo é a mulher, porque não sei quem é a mulher. O que escrevo muda se estou ansiosa, deprimida ou eufórica […]. […] não sei como escreve a Mila em medicamentos, nem o que são medicamentos no modo como escrevo.” Este capítulo termina na diferença entre literatura e loucura, na fronteira ao mesmo tempo absoluta e imponderável, definida numa frase que é também uma citação: “No sistema do delírio, eu sou outro.”» [Gustavo Rubim, ípsilon, Público, 25/04/2025: https://www.publico.pt/2025/04/24/culturaipsilon/critica/djaimilia-pereira-almeida-livro-doenca-livro-hospedes-2130146]


Livro da Doença e outras obras de Djaimilia Pereira de Almeida estão disponíveis em https://www.relogiodagua.pt/autor/djaimilia-pereira-de-almeida/

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