«CORONA
À minha mão vem o Outono comer suas folhas: somos amigos. Descascamos o tempo das nozes e ensinamo‐lo a partir:
o tempo retorna à casca.
No espelho é domingo,
no sonho dorme‐se,
a boca diz a verdade.
O meu olho desce até ao sexo da amada: olhamo‐nos,
dizemo‐nos algo sombrio,
amamo‐nos como papoila e memória,
dormimos como vinho nas conchas,
como o mar no jorro‐sangue da Lua.
Estamos abraçados à janela, vêem‐nos da rua:
chegou a altura de se saber!
Chegou a altura de a pedra se dignar em florir,
de o coração do desassossego começar a bater.
Chegou a altura de ser altura.
Chegou a altura.»
[p. 19, de Não Sabemos mesmo O Que Importa, de Paul Celan, trad. Gilda Lopes Encarnação]
Não Sabemos mesmo O Que Importa (trad. e posfácio de Gilda Lopes Encarnação) e outras obras de Paul Celan estão disponíveis em https://www.relogiodagua.pt/autor/paul-celan/


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