1.8.24

Sobre Kafkiana, de Agustina Bessa-Luís

 

«Terceira edição de uma breve colectânea publicada em 2012, “Kafkiana” reúne quatro textos de Agustina sobre Franz Kafka, de quem se assume “leitora impaciente”, notando que a obra dele exige alguma paciência. Isto não anuncia qualquer hostilidade, apenas cepticismo face à fama e aos equívocos que a fama pode gerar. A estratégia do livro consiste, aliás, em ler Kafka às avessas: Agustina define “O Processo” como uma farsa; diz que a “Carta ao Pai” se dirige a um “pai imaginário”; detecta em Kafka, em vez de intimismo, um “sofrimento (…) feérico, irreal, [que] explode no escuro como uma batalha de luzes, de clarões”; vê nele não um pessimista neurótico, mas um homem ligado à alegria da comunicação, alguém que prezava a “clarividência” e a “sinceridade”; considera-o por isso não um derrotado, mas um super-homem, alheio às ilusões e às esperanças comuns; não um ensimesmado, mas um sedutor, de uma “sedução rigorosa, obstinada, duma claridade deslumbrante”.

Algumas dessas interpretações e intuições não são originais, nem invulgares, mas todas fogem à imagem de marca, ao Kafka da celebridade póstuma. Em certas matérias, porém, as duas ou três coisas que sabemos sobre Kafka são indubitavelmente verdadeiras, a questão da justiça, ou do amor e do casamento, por exemplo. Tratando-se de um livro de Agustina, no entanto, até aquilo que é óbvio estabelece um percurso diferente e sui generis.» [Pedro Mexia, E, Expresso, 26/7/2024: https://expresso.pt/revista/culturas/livros/2024-07-25-livros-franz-kafka-por-agustina-bessa-luis-1d181009]


Kafkiana e outras obras de Agustina Bessa-Luís estão disponíveis em https://www.relogiodagua.pt/autor/agustina-bessa-luis/

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