“Torna-se claro que a saída do Rio constitui em grande parte o motor da correspondência mais significativa de Clarice. Impõe-se uma assinalável continuidade, à maneira de um diário, nas décadas de 1940 e de 1950. Desdobram-se diante de nós os dias vividos em força e desmesura, meditações de uma vida contada em permanente tensão, na tranquilidade e no desassossego. Desse tempo, o livro mostra-nos um retrato ardente: esperas, alegrias, abatimentos.
Sobre Clarice, Hélio Pellegrino afirmou, num texto conhecido, que ‘o diálogo que manteve consigo mesma era intenso demais’. Sim, é verdade. E, no entanto, as cartas mostram-na, ao mesmo tempo, sempre disponível, atenta e dialogante. […]
Deparamos com um sentido de urgência, em muitas das cartas, sobretudo naquelas que envia para as irmãs. Participar do mundo destas completa-a. Como quem ama demais, exige uma correspondência difícil de acompanhar. A veemência dos pedidos revela o desejo de notícias, mas também a necessidade de amparo.
A leitura das cartas de Clarice transporta-nos para o seu universo ficcional, como se estivéssemos diante de uma das suas personagens. A recepção da correspondência é um momento alto que gera sensações exaltantes e pacificadoras: ‘quanto mais carta melhor’, escrevia a Elisa três meses depois de se instalar em Nápoles.” [Do Prefácio de Carlos Mendes de Sousa]
Todas as Cartas e outras obras de Clarice Lispector estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/clarice-lispector/
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