14.2.24

De Marzahn, mon amour, de Katia Oskamp

 


«Os anos da meia‑idade, em que já não és nova e ainda não és velha, são nebulosos. Já não avistas a margem de que partiste, e ainda não distingues com suficiente nitidez a margem para a qual te diriges. Nesses anos, esperneias no meio do grande lago, ficas sem fôlego, perdes as forças devido à repetição dos movimentos que fazes a nadar. Desesperada, paras e rodas em torno de ti mesma, uma volta, depois outra e outra ainda. Surge o medo de ires ao fundo a meio do caminho, sem tom nem som.

Tinha quarenta e quatro anos quando cheguei ao meio do grande lago. A minha vida tornara‑se insípida — a filha capaz de voar, o marido doente, a escrita, à qual até então dedicara o meu tempo, mais do que duvidosa. Carregava qualquer coisa amarga que tornava perfeita a invisibilidade que afeta as mulheres com mais de quarenta anos. Não queria que me vissem. Mas também não queria ver uma saturação de cabeças, de rostos e de conselhos bem‑intencionados. Mergulhei.» [p.9]


Marzahn, mon amour, de Katja Oskamp (tradução de Ana Falcão Bastos), está disponível em https://www.relogiodagua.pt/produto/marzahn-mon-amour/

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