24.9.23

De Obra Completa, de António Gedeão

 



«POEMA DA BUGANVÍLIA


Algum dia o poema será a buganvília

pendente deste muro da Calçada da Graça.

Produz uma semente que faz esquecer os jornais, o emprego e a família,

e além disso tudo atapeta o passeio alegrando quem passa.


Mas antes desse dia há‑de secar a buganvília

e o varredor há‑de levar as flores secas para o monturo.

Depois cairá o muro.

E como o tempo passa

mesmo contra vontade,

também há-de acabar a Calçada da Graça

e o resto da cidade.


Então, quando nada restar, nem o pó de um sorriso

que é o mais leve de tudo que se pode supor,

será esse o momento de o poema ser flor,

mas já não é preciso.» [pp. 208-209]


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