28.8.23

Sobre Irradiante, o negro, de Rui Nunes

 



Não sei. Também ouço falar do verde das árvores, e do azul do mar, e do ocre das falésias, e da cor de alguns olhos, não sei, talvez as trevas sejam afinal o negro-trevas, talvez, talvez nada escape ao negro, nem sequer as trevas, escapar aqui não é fugir, significa somente que tudo é, quando fechamos obstinadamente a boca imobilizamos cada negro no seu sítio, e ele torna-se espesso, afunda-se até ser o negro-espessura: cautela, não tropeces nele e caias, na verdade o que nos querem dizer é: fala, fala, para não te desequilibrares e caíres, olha um gato preto: murmura alguém a teu lado, e de súbito descobres que não há gatos negros, não há o negro-gato, há o preto-gato, e continuas a conversa interrompida: afinal alguma coisa escapou, o preto-gato é furtivo e mimético: confunde-se com o negro por onde passa, às vezes esconde-se nele, isto é, imobiliza-se e desaparece, ou será que cada negro alberga o seu preto-gato?


Irradiante, o negro, e outras obras de Rui Nunes estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/rui-nunes/

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