8.8.22

Ana Luísa Amaral: Uma Obra para Vencer a Morte

 




O desaparecimento de Ana Luísa Amaral abre um vazio na vida dos que a conheceram e na cultura portuguesa.
É certo que a sua obra permanece, que a sua voz persiste em variadas gravações e que há homenagens em preparação, como a da Feira do Livro do Porto.
Mas o desaparecimento dos criadores é sempre irreparável.
Não saberemos de novos poemas seus, não voltaremos a ouvir a sua voz preocupada sobre as guerras, os regimes autoritários e a crise climática que avassalam os nossos dias. Nem teremos mais acesso à sua lúcida compreensão do feminismo.
Também já não conheceremos as traduções que tencionava fazer da correspondência e de mais poemas de Emily Dickinson ou de obras de Louise Glück. Nem a ouviremos falar, como mais ninguém sabia fazer, do “som que os versos fazem ao abrir”, no programa que tinha com Luís Caetano.
Ana Luísa Amaral foi sobretudo poeta, mas distinguiu-se também como professora, ensaísta e pelas traduções que fez.
Na Relógio D’Água publicou Arder a Palavra e Outros Incêndios e traduções de Emily Dickinson (Duzentos Poemas), William Shakespeare (31 Sonetos), Louise Glück (A Íris Selvagem e Vita Nova), Margaret Atwood (Políticas de Poder) e Patricia Highsmith (Carol).
Brevemente iremos publicar a última tradução completa que fez (estava ainda a trabalhar em Winter Recipes from the Collective, de Louise Glück) — Herbarium, de Emily Dickinson, de que revelamos o último poema:


“Para haver pradaria, basta trevo, uma abelha,
Um trevo, abelha,
E fantasia.
Chegava a fantasia,
Se poucas as abelhas.”

Francisco Vale

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