15.6.22

Sobre Fausto, de Fernando Pessoa

 



«O que Pessoa diz do agora Livro do Desassossego, “fragmentos, fragmentos, fragmentos” aplica-se à sua produção inteira. Mensagem mesmo é uma obra compósita, mais do que composta. Na verdade, o que deve surpreender quando se contempla este estranho e extraordinário campo de ruínas textuais não é o seu, no fundo, natural inacabamento. O fascinante, o mais trágico no texto-Fausto é exactamente o inverso e que só nesta nova dimensão factual nos salta aos olhos: a perseverança, o esforço titânico, a vontade de criar realmente um objecto literário com princípio, meio e fim da parte de quem mal concebia princípios e jamais um fim. […] É estranho que toda a glória de Pessoa decorra do mito da Heteronímia por ele mesmo criado e ilustrado, quer dizer, da visão de um eu como multiplicidade de “eus” ou proliferação indefinida deles — em última análise “um” eu para cada instante ou até para cada sensação… — quando se foi (quando se é) — o autor do Fausto, tragédia subjectiva, quer dizer, do Eu como Absoluto e Irredutível, mesmo se de si próprio incompreensível.» [Do Prefácio de Eduardo Lourenço a Fausto, Tragédia Subjectiva]


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