Quatro décadas após a sua formação, em Novembro de 1982, a Relógio D’Água mantém-se uma editora independente e fiel ao seu entendimento de que deve ser avaliada tanto pelos bons livros que publica como pelos maus livros que sabe evitar.
Começou com autores portugueses como Hélia Correia, José Gil, Rui Nunes, João Miguel Fernandes Jorge e Ana Teresa Pereira, para referir apenas alguns que ainda hoje publica. Tem agora um catálogo com cerca de mil e oitocentos títulos que pretendem ser parte integrante e importante de qualquer biblioteca.
A editora definiu-se desde o início como um projecto cultural, não se limitando a publicar as obras que pensa que os leitores querem ler, antes os entusiasmando também pelo que de mais original existe em ficção e ensaio. Procura assim estabelecer uma aliança entre a imaginação dos autores e os leitores capazes de reconhecer os livros que podem alterar o seu modo de pensar e viver.
Além de centenas de autores traduzidos das mais diversas línguas, tem no seu catálogo romancistas portugueses como Agustina Bessa-Luís, José Cardoso Pires, Vitorino Nemésio, Hélia Correia, Rui Nunes, Gonçalo M. Tavares, Ana Margarida de Carvalho, Ana Teresa Pereira, H. G. Cancela, Alexandre Andrade, Cristina Carvalho, Djaimilia Pereira de Almeida e José Gardeazabal; poetas como Fernando Pessoa, Cesário Verde, António Gedeão, Joaquim Manuel Magalhães, João Miguel Fernandes Jorge, José Miguel Silva, Miguel-Manso, Maria Andresen, Jaime Rocha, Bernardo Pinto de Almeida, Frederico Pedreira; e ensaístas como José Gil, Maria Filomena Mónica, António Barreto, Maria Filomena Molder e Humberto Brito.
Iniciativas para 2022
A Relógio D’Água considera que o melhor meio de comemorar este seu aniversário consiste em avançar com a sua programação habitual, até por esta integrar três importantes centenários, a saber, o nascimento de Agustina Bessa-Luís, a morte de Marcel Proust e a edição de Ulisses de Joyce.
– Para celebrar o centenário de Agustina Bessa-Luís, será publicado o Livro de Prefácios às suas obras; As Sibilas — Diálogos em sfumato, de Mónica Baldaque; uma antologia de entrevistas reunidas e apresentada por Lourença Baldaque e livros como Breviário do Brasil (com prefácio de Anamaria Filizola), e A Alma dos Ricos. Por seu lado, o Círculo Literário Agustina Bessa-Luís vai impulsionar debates e iniciativas em ligação com diversas autarquias e instituições.
– Os cem anos de Ulisses de Joyce serão celebrados no dia 16 de Junho, o Bloomsday, com o lançamento de uma edição em capa dura. A nossa tradução de Ulisses, feita por Jorge Vaz de Carvalho, recebeu o Grande Prémio de Tradução Literária APT/SPA, em 2015.
– Marcel Proust faleceu em Novembro de 1922. Além de uma promoção especial dos sete volumes de Em Busca do Tempo Perdido, traduzido pelo poeta Pedro Tamen, publicar-se-ão algumas obras menos conhecidas do autor.
– Na ficção traduzida, destacamos o lançamento de dois novos romances de Cormac McCarthy, O Passageiro e Stella Maris, que rompem um silêncio de dezasseis anos do autor, de Querida Kitty de Anne Frank, A Estrela da Manhã de Karl Ove Knausgård, My Year of Rest and Relaxation de Ottessa Moshfegh, Matriz de Lauren Groff, Moon Witch, Spider King de Marlon James, Small Things like These de Claire Keegan, Our Missing Hearts de Celeste Ng, The Marriage Portrait de Maggie O'Farrell, Inquietos de Linn Ullmann, Memória da Memória de Maria Stepanova, e Casa de Marilynne Robinson.
– A ficção científica continua com Flores para Algernon de Daniel Keyes e a continuação da série Duna.
– Na ficção portuguesa, teremos novos títulos de Gonçalo M. Tavares (A Pedra e o Desenho com ilustrações de Julião Sarmento), de Djaimilia Pereira de Almeida, Sandro William Junqueira, Amadeu Lopes Sabino (Felix Mikailovitch), e Obras Escolhidas de Ana Teresa Pereira.
– No ensaio, continuaremos a publicar Montaigne, uma antologia de textos de Musil, Duas Mulheres de Maria Filomena Mónica, Nadar num Lago à Chuva de George Saunders, Cartas do Pai, sobre o Gulag, com prefácio de Liudmila Ulítskaia, e Infocracia de Byung-Chul Han. Outros ensaios abordarão temas da actualidade como a Rússia de Putin (O Futuro É História, de Masha Gessen), Belt and Road: A Chinese World Order de Bruno Maçães, Da Guerra de Carl von Clausewitz e O Fim do Mundo Clássico de Peter Brown.
– Na filosofia, destacamos A Morte Breve e a Democracia Imanente de José Gil e Reflexos Primitivos de Peter Sloterdijk.
– Os clássicos continuam com a edição de romances de Gogol, de Charles Dickens, Fiódor Dostoiévski, Charlotte Brontë e George Eliot.
– Nas biografias e diários, teremos, depois de Diário do Escritor de Fiódor Dostoiévski, os diários de Patricia Highsmith, uma biografia de Hannah Arendt, a correspondência de Virginia Woolf e Todas as Cartas de Clarice Lispector.
– Bob Dylan e Nick Cave são músicos que reflectem sobre a sua arte. A Filosofia da Canção Moderna reúne os primeiros textos de Dylan depois de receber o Nobel da Literatura. Em Faith, Hope and Carnage, conhecemos aspectos da vida de Nick Cave nos últimos anos e as suas reflexões sobre arte, música, fé e sofrimento.
– Na poesia, prosseguirá a edição de obras de Paul Celan (começando por Sete Rosas mais Tarde), Emily Dickinson (Herbarium, traduzido por Ana Luísa Amaral), Políticas de Poder de Margaret Atwood, a reedição de obras de Hölderlin e Brecht e dois títulos de José Gardeazabal.
E, claro, há livros e autores que ainda não anunciámos, pois é preciso continuar a surpreender os leitores.
Francisco Vale
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