10.12.21

Sobre «Um Adeus Mais-Que-Perfeito», de Peter Handke

 

«Handke parte do acontecimento do suicídio da mãe (em 1971, o livro foi publicado um ano depois) para, numa linguagem precisa quanto possível, arrancando a escrita do estado de mudez, contar a sua história de vida; mas acaba por fazer mais do que isto, porque a história da mãe é parte da História da Europa Central. É assim que no início ele vai contando da condição feminina na Áustria num contexto rural, pequeno-burguês e católico, onde a expressão de vida própria por parte da mulher era vista como “manifestação de impertinência e leviandade”; “ensinamento” que sempre acompanhou a mãe a par com as sempre difíceis circunstâncias económicas — com referências à “pobreza higiénica”, ao “slogan” (curiosamente também salazarista) “pobre mas limpo”, porque a “limpeza tornava os pobres aptos para a vida em sociedade”.
Mas são as reflexões sobre a linguagem, a dificuldade da escrita e da narrativa, que elevam este livro acima do documental ou de uma biografia da mãe.»

[José Riço Direitinho, «Arrancar da mudez a escrita», «Ípsilon», 2021/12/10]

«Um Adeus Mais-Que-Perfeito» e outras obras de Peter Handke estão disponíveis em: https://relogiodagua.pt/autor/peter-handke/


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