16.10.20

De Patañjali e o Yoga, de Mircéa Eliade

 



«Yoga, jungere, jugum


Não é fácil definir o Yoga. Etimologicamente, o termo Yoga deriva da raiz yuj, «ligar», «manter unido», «jungir», «pôr sob o mesmo jugo», de que provêm também o latim jungere, jugum, o inglês yoke, etc. O vocábulo Yoga serve geralmente para designar qualquer técnica de ascese e método de meditação. Evidentemente, tais asceses e meditações foram valorizadas de forma diferente pelas múltiplas correntes de pensamento e movimentos místicos indianos. Existe um Yoga «clássico», exposto por Patañjali no seu célebre tratado Yoga-Sûtra, e é deste sistema que deveremos partir para compreender a posição do Yoga na história do pensamento indiano. Paralelamente a este Yoga «clássico», existem, todavia, inúmeras formas de Yoga «populares», assistemáticas, e existem também os Yogas não bramânicos (por exemplo, o dos budistas, o dos jainas).

No fundo, foi o próprio termo Yoga que permitiu esta grande variedade de significados: se, com efeito, etimologicamente, yuj significa «ligar», é no entanto evidente que o «liame» estabelecido por essa acção de ligar pressupõe, como condição preliminar, a ruptura dos liames que unem o espírito ao mundo. Noutros termos: a libertação não pode ter lugar se não nos tivermos primeiro «desligado» do mundo, se não começámos por nos afastar do circuito cósmico, sem o que nunca nos chegaremos a reencontrar, nem a ter o domínio de nós próprios. Mesmo na sua acepção «mística», isto é, mesmo no seu significado de união, o Yoga implica o desapego preliminar da matéria, a emancipação relativamente ao mundo. A tónica recai no esforço do homem («pôr sob o mesmo jugo»), na sua autodisciplina, graças à qual pode obter a concentração do espírito, mesmo antes de ter pedido — como nas variantes místicas do Yoga — o auxílio da divindade. «Ligar», «manter unido», «pôr sob o mesmo jugo», tudo isso tem por objectivo unificar o espírito, abolir a dispersão e os automatismos que caracterizam a consciência profana. Para as escolas do Yoga «devocional» (místico), esta «unificação» não faz mais, evidentemente, do que preceder a verdadeira união, a da alma humana com Deus.» [pp. 11-12]


Patañjali  e o Yoga e O Sagrado e o Profano estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/mircea-eliade/


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