26.9.20

Sobre Poemas Escolhidos, de T. S. Eliot

 



«III. O Sermão do Fogo


A tenda do rio rompeu‑se: os derradeiros dedos de folhas

Agarram‑se e enterram‑se na margem húmida. O vento

Atravessa a terra parda, sem se ouvir. As ninfas partiram.

Gentil Tamisa, corre lento, até eu findar meu canto.

O rio não leva garrafas vazias, papéis de sanduíche,

Lenços de seda, caixas de cartão, pontas de cigarro,

Ou outros testemunhos de noites de Verão. As ninfas partiram.

E os amigos delas, os vadios herdeiros dos directores da City —

Partiram, não deixaram endereços.

Junto às águas do Leman assentado eu chorei…

Gentil Tamisa, corre lento, até eu findar meu canto,

Gentil Tamisa, corre lento, que eu não falo nem alto nem muito.

Mas por detrás de mim num estrondo frio eu ouço

O restolhar dos ossos, e a risada aberta de uma orelha à outra.»

[de «A Terra Devastada», p. 85]


Poemas Escolhidos (tradução de João Almeida Flor, Gualter Cunha e Rui Knopfli)e Ensaios Escolhidos de T. S. Eliot estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/t-s-eliot/

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