8.4.20

Sobre os cafés e a ideia de Europa




No programa Sinais de hoje, na TSF, Fernando Alves detém-se sobre «Tantos cafés, depois da quarentena». O programa pode ser ouvido aqui: https://www.tsf.pt/programa/sinais/emissao/tantos-cafes-depois-da-quarentena-12045118.html

«A Europa é feita de cafetarias, de cafés. Estes estendem‑se do café lisboeta preferido de Fernando Pessoa aos cafés de Odessa frequentados pelos gangsters de Isaac Babel. Estendem‑se dos cafés de Copenhaga, diante dos quais Kierkegaard passava durante as suas pensativas caminhadas, até aos balcões de Palermo. Não há cafés antigos nem característicos em Moscovo, que é já um subúrbio da Ásia. Muito poucos em Inglaterra, depois de uma breve moda durante o século XVIII. Nenhum na América do Norte, excetuando no entreposto francês que é Nova Orleães. Desenhe‑se o mapa das cafetarias e teremos uma das marcas essenciais da “ideia de Europa”.
O café é um espaço para encontros amorosos e conspirações, para o debate intelectual e a bisbilhotice, para o flâneur e para o poeta ou o metafísico com o seu caderninho. Está aberto a todos, mas ao mesmo tempo é um clube, uma franco‑maçonaria de reconhecimento político ou artístico‑literário e de presença programática. Uma chávena de café, um copo de vinho, um chá com rum garantem um local onde trabalhar, sonhar, jogar xadrez ou simplesmente manter‑se quente durante todo o dia. É o clube do espírito e a posta‑restante do sem‑abrigo.
[…] “Enquanto houver mendigos haverá mitologia”, disse Walter Benjamin, um fervoroso conhecedor e peregrino das cafetarias. Enquanto houver cafés, a “ideia de Europa” terá um conteúdo.» [George Steiner, A Ideia de Europa, pp. 25-28]

A Ideia de Europa (tradução de José Miguel Silva) e outras obras de George Steiner estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/george-steiner/

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