18.3.20

Sobre O Processo, de Franz Kafka




«Josef K. foi certamente vítima de alguma calúnia, pois, numa bela manhã, sem ter feito nada de mal, foi detido. A cozinheira da senhora Grubach, sua senhoria, não apareceu naquele dia, ela que lhe levava sempre o pequeno‐almoço por volta das oito horas da manhã. Nunca tal acontecera. K. esperou ainda uns minutos, deitado na ca‐ ma, observando da sua almofada a velha que vivia no prédio em frente e que o examinava com uma curiosidade que não lhe era nada habitual. Por fim, cheio de fome e de surpresa também, tocou a sineta. No mesmo momento, alguém bateu à porta e um homem que ele nunca antes vira naquela casa entrou no seu quarto. Esguio, ainda que bem constituído, o homem envergava um fato preto e justo, lembrando a indumentária que se usa em viagem, repleta de pregas e algibeiras, fivelas e botões, e um cinto ainda. Tudo aquilo lhe dava um aspeto muito prático, ainda que ninguém conhecesse a sua serventia.
— Quem é o senhor? — perguntou K., soerguendo‐se de imediato na cama.
O homem ignorou, porém, a pergunta, como se a sua presença naquele lugar fosse mais do que natural, e limitou‐se a indagar por sua vez:
— O senhor chamou?» [O Processo, p. 7]


O Processo (tradução de Gilda Lopes Encarnação) e outras obras de Franz Kakfa estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/franz-kafka/

Sem comentários:

Enviar um comentário