25.2.20

Sobre O Anjo Camponês, de Rui Nunes




«Num registo poliédrico, que torna aleatória qualquer atribuição de género, este livro de Rui Nunes ora nos confronta com a descrição do funeral de Franco e com cenas homéricas ou bíblicas ora se detém em acontecimentos recentes e facilmente reconhecíveis: “Atravessam a Europa no interior de uma câmara frigorífica: corpos uns contra os outros”, “tão mortos, que não nasceram nem morreram”. A quem possa estranhar a “anunciação” inicial, convirá recordar que “o anjo anunciava não […] o nascimento de um Deus, mas um homem a sós com os seus gestos”. Esta ênfase na solidão torna-se, aliás, lancinante e recorrente: “estamos sós/ Na intimidade de uma ruína”. Deus, por sua vez, apenas comparece enquanto “ausência irremediável” ou, na esteira dos cátaros, como pérfido demiurgo: “a merda e a morte são a matéria-prima de Deus”.» [Manuel de Freitas, E, Expresso, 22/2/2020]

O Anjo Camponês e outras obras de Rui Nunes estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/rui-nunes/

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