«Celeste é que nem quis saber de mais nada, correu logo para a rua, com a boneca muito presa ao coração. Apertava-a até à dor do bem-querer.
Era uma negrinha só ternura e ainda por cima indefesa porque tinha um braço estropiado, provavelmente roído por qualquer bicho do mato. Mas o braço pouco importava, a criança ainda gostava mais dela por causa dessa fatalidade. Principalmente não podia esquecer os olhos, que eram como duas pétalas de marfim sobre um cheiro de canela.
“Làlinha, minha Làlinha… Fizeram-te mal, Làlinha?”
Sentadas ao portal, Celeste e Làlinha tinham à volta delas um campo de refugiados, casinhotos de cimento, ruas povoadas de galinhas, caixotes de porão às portas. Entre latas de flores havia um manjerico plantado num capacete colonial.»
Celeste & Làlinha e outras obras de José Cardoso Pires estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/jose-cardoso-pires/
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