Morreu hoje, aos 71 anos, Manuel Resende. Traduzia do inglês, francês, grego, russo e alemão, entre outras línguas. Entre os autores que ajudou a divulgar em Portugal estão clássicos como Ésquilo ou William Shakespeare, escritores como Lewis Carroll, Henry James, Kavafis, Saki, Katherine Mansfield, Mishima, Lydia Davis, além de obras de Sigmund Freud, Peter Sloterdijk e Karl Marx.
Deixou uma obra poética não muito extensa, mas de invulgar qualidade, publicada recentemente em Poesia Reunida, editada pela Cotovia.
Nascido no Porto, Manuel Resende estudou na Faculdade de Ciências e depois na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, tendo estado ligado aos movimentos estudantis dos anos 60. Já na altura era conhecido por gestos como o de ler poesia de Jacques Prévert e outros poetas em esplanadas dos cafés do Porto.
No início dos anos 70, esteve ligado à criação da LCI. Durante vários anos trabalhou em Bruxelas como tradutor principal da União Europeia.
«O poeta obscuro
Quero apertar-te nos braços, querido poeta,
beijar-te e tirar-te da morte.
Chamam-te obscuro, porque cantavas no escuro,
com a voz rouca afogada
na região torrencial das lágrimas
e o ouvido cheio de gritos.
Como se pode cantar entre gritos
com a voz enrouquecida?
Não te vás ainda, não morras,
deixa para amanhã,
deixa-me lavar-te as feridas com água pura
tenho aqui água, descansa, em quantidade.
Querias uma palavra? Está aqui:»
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