10.12.19

Sobre Duzentos Poemas, de Emily Dickinson




«Duas Medidas cada Dia tem —
Sua total extensão
É Área superior
Que o Horror dá ou a Esperança —

A Eternidade será
A Velocidade ou a Pausa
Em Sinais Fundamentais
De Fundamentais Leis.

Morrer não é partir —
Não há Zona marcada
Na Rota, fim do Juízo —
Permanece como és.»

«A poesia de Dickinson é marcada por uma peculiar gramaticalidade: inserção forçada de plurais, posições sintácticas invertidas, ou, muitas vezes, desrespeito pelos géneros, pelas pessoas ou pelas concordâncias verbais. É ainda necessário destacar da linguagem de Dickinson não só os desvios sintáctico-formais, mas ainda os desvios semânticos internos, aqueles que sustentam, pela ruptura, a arquitectura dos seus textos poéticos e que resultam numa linguagem críptica, compacta, plena de elipses, traduzida em textos que desafiam a tradição da poesia enquanto comunicação e oferecem à linguagem literária um lugar de destaque e autonomia mais próximo da estética que informa a poesia moderna. Excessiva, em relação ao seu tempo; excessiva, mesmo em relação ao nosso, pela opacidade de leitura e apreensão e pelas temáticas envolvidas. “Uma linguagem altamente desviante que arrisca tudo”, como defende David Porter, pois, “na extrema elipse e transposição, desbasta a armadura mesma do sentido”.» [Do Posfácio de Ana Luísa Amaral]

Duzentos Poemas (trad. Ana Luísa Amaral) está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/duzentos-poemas/

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