10.10.19

Prémio Nobel da Literatura para Peter Handke




O escritor austríaco Peter Handke acaba de receber o Prémio Nobel da Literatura 2019, atribuído pela Academia Sueca.
A Relógio D’Água publicou duas obras do autor: O Chinês da Dor (1987) e A Angústia do Guarda-Redes antes do Penalty (1987), ambas traduzidas por Maria Adélia Silva Melo.




Em O Chinês da Dor está presente a Áustria que elegeu Waldheim, a tristeza dos subúrbios, o ritmo lento do solo e os meandros da água e das rochas.
O narrador, um professor que abandonou as aulas, deambula, derrotado e lúcido, entre uma multiplicidade de sinais, um mundo onde a linguagem se afundou, que perdeu a sua espessura e está privado de profundidade. Um dia mata um homem que encontra a desenhar a cruz gamada nos muros da cidade.

«Talvez a arma que matou seja aqui aleatória», disse Peter Handke, «uma simples pedra arremessada por instinto; para atingir o alvo foi necessário que a fatalidade se adicionasse a esse gesto.»




«O guarda-redes está a ver se descobre qual é o canto da baliza que o jogador quer atingir, disse Bloch. Se conhece o jogador, sabe qual é o canto que, de um modo geral, ele prefere. Mas, provavelmente, o jogador que vai marcar o penalty pensa também que o jogador o está a tentar descobrir. Por isso, o guarda-redes tem de admitir que precisamente hoje a bola vai entrar pelo outro canto. Mas o que é que acontece se o jogador que vai marcar o penalty seguir o pensamento do guarda-redes e acabar por decidir atirar para o canto para o qual costumava atirar?»

Neste livro, em que a angústia causada pelo penalty é uma metáfora da vida — aspecto sublinhado no filme sobre ele feito por Wim Wenders —, Peter Handke fala-nos de um antigo guarda-redes que, depois de ser despedido do emprego assassina uma mulher, sua ocasional amante, e deambula num mundo que parece ter perdido todo o sentido.

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