31.10.19

No centenário do nascimento de Jorge de Sena





Comemora-se no próximo dia 2 de Novembro o centenário do nascimento de Jorge de Sena.
Entre 6 e 9 de Novembro, terá lugar na Biblioteca Nacional o colóquio A Crítica de Jorge de Sena, organizado por Joana Meirim e Joana Matos Frias, em que se pretende discutir a produção ensaística de Jorge de Sena. A entrada é livre e o programa pode ser consultado aqui: http://www.bnportugal.gov.pt/images/stories/agenda/2019/Coloquio_JSena_Programa.pdf



A Relógio D'Água publicou A Arte de Jorge de Sena, uma antologia editada pelo professor Jorge Fazenda Lourenço, especialista no autor:

«Projectada como uma iniciação, ou uma re-iniciação, sempre necessária, esta antologia procura o risco de uma experiência de leitura parcial de Jorge de Sena. Na esperança de suscitar, e não de saciar, o desejo pela obra desmedida deste tão grande poeta. É claro que o termo arte, usado no título, deve ser tomado mais no sentido estético de criação, de modo de expressão e, também, de conjunto de obras de, e menos no sentido de um saber-fazer, de uma “astúcia” ou de um conjunto de meios e de procedimentos técnicos. O decisivo é poder reconhecer, pela leitura, como o título, A arte de Jorge de Sena, procura fazer justiça à obra de um poeta que, em todos os domínios, tem por fundamento uma ars erotica, vital, escatológica, inquiridora da nossa humana divindade. E essa ars erotica é a grande evidência desta antologia.» [da Nota Prévia]



e ainda, com introdução de Mécia de Sena, Sobre Literatura e Culturas Britânicas:

«Aqui, perto de mim, nesta aldeia do Buckinghamshire de onde escrevo, para além destas árvores magníficas onde há pássaros e passeiam esquilos, está o velho cemitério acerca do qual Gray escreveu um dos mais belos poemas do século xvɪɪɪ. Toda a gente aqui sabe disto, e é difícil distinguir quem está em dívida, se o velho cemitério à volta da igrejinha, se o sábio e catedrático Gray. E é este, por certo, um dos encantos da cultura e da vida britânicas. Nem a primeira passa o tempo a ansiar pela segunda, nem esta decorre à margem daquela, indiferente e feliz na sua mesquinhez fiel aos séculos. A própria indiferença - e a que ponto os ingleses são no íntimo indiferentes a quase tudo! - é aqui um convívio, uma solidão partilhada. A vida, ao que suponho, é isso mesmo.» [«Introdução à Inglaterra»]

«Aviso de Porta de Livraria

Não leiam delicados este livro,
sobretudo os heróis do palavrão doméstico,
as ninfas machas, as vestais do puro,
os que andam aos pulinhos num pé só,
com as duas castas mãos uma atrás e outra adiante,
enquanto com a terceira vão tapando a boca
dos que andam com dois pés sem medo das palavras.
E quem de amor não sabe fuja dele:
qualquer amor desde o da carne àquele
que só de si se move, não movido
de prémio vil, mas alto e quase eterno.
De amor e de poesia e de ter pátria
aqui se trata: que a ralé não passe
este limiar sagrado e não se atreva
a encher de ratos este espaço livre
onde se morre em dignidade humana
a dor de haver nascido em Portugal
sem mais remédio que trazê-lo n’alma.

25-1-1972» [in A Arte de Jorge de Sena]


Ambos os livros estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/jorge-de-sena/

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