Estreou no passado dia 10, no Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra, a peça Desmesura, de Hélia Correia, editada em 2006 pela Relógio D’Água.
Desmesura insere-se numa linha de revisitação de textos clássicos, como Perdição ou O Rancor.
A peça, que retrata, nas palavras da investigadora e professora da Universidade de Coimbra Fátima Sousa e Silva, aquilo que é «insondável e fluido: os recônditos obscuros da alma humana», estará em cena até 27 de Outubro.
O espectáculo tem encenação de Igor Lebreaud, Jarbas Bittencourt e Sofia Lobo, e é interpretada por Ana Teresa Santos, Daniela Marques, Igor Lebreaud, Lucília Raimundo, Miguel Magalhães e Sofia Lobo.
Mais informações sobre a peça aqui: https://weblog.aescoladanoite.pt
«Cidade grega de Corinto.
Uma cozinha. Melana, uma mulher que ainda não fez quarenta anos, morena, olha para a porta, como quem espera. Ouve-se um trovão. Percebe-se que o tempo está escuro no exterior. O lume aceso na chaminé é um pequeno foco de claridade.
Entra uma jovem de cabelo ruivo, Éritra, com um alguidar cheio de farinha. Ao longo da cena, vão preparando a massa para o pão. Há interrupções várias neste trabalho, o que faz com que leve muito mais tempo do que o habitual.
Éritra vem sacudindo-se da chuva e despeja a farinha sobre a mesa.
MELANA — A chover, outra vez? (Vai confirmar, abrindo a porta) A chover, sempre.
ÉRITRA — Não digas nada.
MELANA — Eu digo alguma coisa?
ÉRITRA — Pensaste.
MELANA — Ninguém manda no que pensa.
ÉRITRA (segredando) — Ela consegue ouvir-nos a pensar…»
Esta e outras obras de Hélia Correia estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/helia-correia/
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