9.9.19

Sobre A Casa Assombrada e Outros Contos, de Virginia Woolf (trad. Miguel Serras Pereira)




«Mais desenvolvido, o monólogo interior “A Marca na Parede” destaca-se neste volume, até na medida em que põe em contacto o fantástico vitoriano e a inquietação modernista, como Henry James fazia esplendidamente. Que marca é aquela que a personagem vê na parede? É uma sombra? O sítio de um prego? Uma assombração? Como sugere a narradora, antes havia espelhos, e a ficção também era um espelho, mas agora (o agora de então) só há espelhos quebrados, refracções infinitas. E já não servem as velhas discrições fiéis ao mundo conhecido, as “generalizações” que nos guiavam e enganavam. Mais do que uma história, isto é uma teoria da ficção modernista, bem como uma defesa do seu cepticismo filosófico. Em “Resumo”, essa realidade exterior mostra-se ainda mais instável, com toda a cidade de Londres banhada numa “névoa” enigmática, ainda que prosaica. Vivíssima ensaísta, Woolf denunciou os romancistas “materialistas” como incapazes de dar voz à consciência; e se, enquanto ficcionista, não dispensava os pormenores materiais, é notório que eles detalham apenas fragmentos de ume conjunto expansivo de fenómenos e impressões, conjunto nem sempre imediatamente apreensível pelos indivíduos ou pelas famílias.» [Pedro Mexia, E, Expresso, Agosto de 2019]

Esta e outras obras de Virginia Woolf estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/virginia-woolf/

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