28.6.19

Um Romance Invulgar




É um prémio merecido.
Claro que Hélia Correia já o poderia ter recebido. Podemos mesmo considerar que anteriores livros seus, como Lillias Fraser e Adoecer, se inseriam mais naturalmente no cânone tradicional do romance. Mas este género tem-se revelado versátil e mutável. 
Não admira, pois, que Um Bailarino na Batalha acabe por receber o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, apesar de poder também ser considerado um longo poema de ressonâncias épicas.
Hélia Correia fala-nos de um dos grandes problemas da actualidade, que, de certo modo, o foi de todos os tempos, as migrações dos deserdados. 
A narrativa fala-nos de personagens, animais, e homens e mulheres, estas em luta também pela sua libertação. Movem-se no deserto, onde há um rio e até uma cidade, mas tudo está fora de um espaço e tempo reconhecíveis. O ritmo é construído sílaba a sílaba, na cadência dos caminhantes e da sucessão dos dias e das noites, em busca de uma Europa cada vez mais próxima e inacessível.


Francisco Vale

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