18.3.19

Sobre Coisas Que não Quero Saber, de Deborah Levy




«Título e subtítulo são, neste livro, uma conjugação explosiva, matéria capaz de deixar o leitor em meditação, durante largas horas. De um lado, Coisas Que não Quero Saber; do outro, Uma Resposta ao Ensaio de George Orwell “Porque Escrevo”, de 1946. Numa ponta, a negação e a emoção; na outra, a afirmação e a racionalidade. A tensão, na verdade, nunca se resolve, e nesse jogo de forças reside a atração deste primeiro volume da autobiografia de Deborah Levy.
Porque Escrevo, de George Orwell, é um texto clássico que afirma, com uma enorme clareza, o que move um escritor. Das certezas precoces ao posicionamento ideológico, há pouco espaço para a dúvida. Apesar de um duelo interior, travado entre os 17 e 24 anos, época em que quis afastar a “vocação”, no percurso de Orwell há, sobretudo, conflitos exteriores, os que marcaram o século XX e que ele convocou para os seus livros. Em Levy, a expressão Porque Escrevo reclama forçosamente um ponto de interrogação. Perto dos 55 anos, no meio de uma crise pessoal de contornos difusos, exigiu também uma resposta.» [Luís Ricardo Duarte, Visão, 6/1/2019]

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