11.1.19

Rui Nunes entrevistado por Maria Leonor Nunes, no «JL», a propósito do seu último livro, «Suíte e Fúria»





«Não lhe contem histórias. Está “farto” de “abrir um livro e encontrar o paraíso”, de uma literatura que não é capaz de dizer a realidade, quando assistimos, diz ele, a um “retorno ao que houve de pior no séc. XX”. O mesmo é dizer ao “fechamento” da Europa, ao ressurgimento das ideias nazis, “essa luz maligna” que “estranhamente continua a iluminar o mundo atual” e a “seduzir muitas pessoas”.
A escrita é nele “biológica”. Está no gume do seu olhar. E mesmo que os seus olhos já vejam pouco, não quer deixar de escrever o que se passa. “A realidade é inesgotável e provocadora”, diz Rui Nunes ao “JL”. E, a um tempo, perturbadora. Tudo isso assoma no seu novo livro, “Suíte e Fúria”, edição Relógio D’Água, uma narrativa sobre o tempo histórico e individual, a memória e o real, a separação e a mudança. […]
— Diz noutro passo do seu livro que está cansado de abrir um livro e encontrar o paraíso.

— E o que isso significa? Que a realidade não está lá, que as histórias, com o seu princípio, meio e fim, são elas próprias uma dimensão do paraíso. Dão uma realidade acabada, de certo modo inquestionável no seu acabamento. E falta-lhes abertura ao mundo. Isso é o que menos me agrada no que se está a publicar. São histórias fechadas, com referências unicamente a outras histórias, a outros livros. O eco de outras leituras está demasiado presente e o eco do mundo cada vez mais distante. É uma literatura que trabalha sobre a literatura, livros que se escrevem sobre livros. E assim a realidade vai-se progressivamente afastando da literatura.» [«JL», 2/1/2019]

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