28.12.18

Livros da Relógio D’Água escolhidos no balanço do Observador



No balanço efectuado pelos críticos do Observador sob a designação «os melhores livros que lemos em 2018» surgem diversos títulos de autores publicados pela Relógio D’Água.
Carlos Maria Bobone destaca Descrição Guerreira e Amorosa da Cidade de Lisboa, de Alexandre Andrade. 



Um enredo em que se misturam dois tempos, com a busca do Graal transposta para o nosso século. Aquilo que poderia ser um artifício de gosto duvidoso transforma-se, pela mestria técnica do autor, quase num acontecimento natural. Alexandre Andrade escreve de uma forma quase fria, com aquela nudez puritana que, entre os grandes, encontramos em Racine e, entre os nossos, encontramos em quase ninguém.

Joana Emídio Marques escolheu dois livros publicados pela Relógio D’Água: Fuck The Polis, de João Miguel Fernandes Jorge, e O Livro por Vir, de Maurice Blanchot.



«João Miguel Fernandes Jorge é um poeta com uma obra rara, um universo tão vasto quanto particular, tão intenso quanto discreto. Há quem não dê por ele e há os que seguem os seus livros como fragmentos preciosos e solenes da poesia como uma arte imemorial que se liga ao mais profundo, pessoal e quotidiano. As palavras funcionam para João Miguel Fernandes Jorge como os traços e manchas com que um pintor compõe uma imagem, como os fios das tecedeiras ou das parcas se unem até formar um manto ou um destino.
Desde 2014 que não publicava e agora, já perto do fim deste ano, ei-lo de volta com este Fuck The Polis ou a Grécia revisitada onde as cidades de hoje são as cidades de ontem, onde cada objeto, cada gesto, cada paisagem é mais do que um “aparecer” ou um modo discursivo; é uma fundura, uma aura onde os tempos se encontram num longínquo que aparece em instantes fugazes, na ruína, na derrota, na erosão, como esse mítico rio (Ilissos) que correu em Atenas e hoje não existe senão como um fio de água canalizada nos arrabaldes da metrópole.»



«Nenhum livro é uma história acabada para aqueles que verdadeiramente leem, e por isso esta é uma obra essencial para aqueles que procuram refletir sobre a literatura e as suas complexas formas de representar a experiência humana. Maurice Blanchot não teme romper com os conceitos de géneros literários nem com a arrumação científica que aquieta muitas almas. A sua abordagem das obras de Proust, Goethe, Kafka, Artaud, Borges, Beckett, Virginia Woolf, etc., é indisciplinada, provocativa e exigente.»

Jorge Almeida seleccionou Cartas a Milena, de Franz Kafka.



«Foi do posto dos seus antiquíssimos “38 anos de judeu” que Franz Kafka conheceu a jovem Milena, sua admiradora e esposa de um intelectual que frequentava o meio literário de Praga. Dois meses depois de terem começado a trocar cartas com um intuito exclusivamente profissional, Kafka escrevia a Milena que esta era a primeira pessoa com quem estabelecera uma conversa sincera, não porque fosse incapaz de o fazer com os outros, mas porque ela fora a única a ter “olhos verdadeiros e compassivos” para com ele. Entre estas duas cartas já Kafka fizera planos para um futuro a dois e sugerira a Milena que esta se separasse do marido. Estas cartas, pela primeira vez publicadas em Portugal na sua totalidade, mostram-nos que Kafka não foi só um espírito lúcido permanentemente angustiado, mas que também foi um homem como todos os outros, meio habilidoso e meio trapalhão na tentativa de galantear algo que lhe era querido.»

João Pedro Vala distinguiu As Variedades da Experiência Religiosa, de William James.



«A sua generosidade intelectual aliada a uma impressionante seriedade e robustez de pensamento fazem de William James um dos autores mais relevantes dos últimos duzentos anos e de Variedades da Experiência Religiosa a mais importante novidade do mercado editorial português em 2018.»


Nuno Costa Santos optou por um ensaio publicado pela Relógio D’Água, A Expulsão do Outro, de Byung-Chul Han.



«Filósofo nascido em Seul que se afirmou na Alemanha, Byung-Chul Han tem procurado perceber, livro a livro, quais armadilhas em que caiu esta sociedade cansada, na qual cada um oferece a sua intimidade a um sistema que muito agradece para melhor vender o seu peixe digital. Em A Expulsão do Outro aponta para a expulsão da diferença em nome do comércio entre “consumidores”, todos iguais. Em consonância com um seu outro livro, O Aroma do Tempo, destaca o fim do olhar, da voz, da linguagem, do erotismo, como sintomas da doença do like e da adição à selfie. Pode parecer por vezes que o que afirma Byung-Chul Han é óbvio e elementar. Mas topar a evidência é, muitas vezes (e é o caso), uma arte praticada pelos melhores. “Só os profetas enxergam o óbvio”, escreveu, com acerto, Nelson Rodrigues.»


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