21.8.18

A chegar às livrarias: António e Cleópatra, de William Shakespeare (trad. Rui Carvalho Homem)




«A aparição de Cleópatra diante de António no Cidno evidencia a consciência de que o seu poder depende de imagens e da eficácia que consiga convocar para a representação de si. Daí resultarão várias formas de ambivalência na caracterização de Cleópatra. O espaço egípcio é uma extensão da própria Cleópatra, cujo estatuto real lhe permite ser apostrofada como “Egipto”; e um dado da construção desse espaço que integra a configuração trágica — ou seja, que contribui para tornar inevitável o desastre — é a insistência da rainha em moldar o real de uma forma que lhe resulte gratificante: se não puder fazê-lo pela intervenção activa no plano da factualidade, servindo de modo consequente os seus interesses, Cleópatra fá-lo-á ao nível do discurso, promovendo uma ficção que venha substituir circunstâncias menos conformes com a sua auto-re­pre­sen­tação. Dessa perspectiva, atente-se na sua vontade (…) de matar o portador de más novas (o mensageiro que a vem informar do casamento de António com Octávia), momento este que terá o seu contraponto útil quando o mesmo mensageiro for premiado por ter aprendido a ser lisonjeiro — descrevendo então Octávia tão negativamente quanto a vaidade de Cleópatra o exigir.» [Da Introdução]

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