22.2.18

Eduardo Pitta escreveu sobre«Porquê Este Mundo», de Benjamin Moser, para a revista Sábado






«Moser é um americano do Texas que estudou em Paris e viveu vários anos no Brasil. Os primeiros autores que leu em português foram Machado de Assis e Clarice: nunca mais foi o mesmo depois de ler A Hora da Estrela. A vida de Clarice dava um romance e, nessa medida, não virá mal ao mundo se lermos como tal Porquê Este Mundo. Publicada em 2009, esta biografia revela-nos uma Clarice em grande angular. Sem beliscar o rigor intelectual da pesquisa, a escrita ágil do autor torna a leitura aliciante. Chaya Lispector nasceu em Tchetchelnik, na Ucrânia (então território russo), em Dezembro de 1920, no seio de uma família judaica. O desemprego, a fome e os pogroms anti-semitas tornavam a vida insustentável. Impedida de emigrar para os Estados Unidos, a família foi para o Brasil em 1921. Chegados a Maceió, mudaram todos de nome, e Chaya virou Clarice. Assim nasceu aquela que viria a ser uma lenda da vida literária brasileira, a Esfinge, como era conhecida. Moser detalha os pormenores da odisseia migratória, contextualizando a situação política da Europa no pós-Primeira Guerra Mundial. O autor acompanha também o dia-a-dia de Clarice nas suas diversas fases: criança, adolescente, curso de Direito, casamento com o diplomata Maury Gurgel Valente, mãe, escritora. Os anos no estrangeiro (1944-59) na companhia do marido, os dois filhos, o divórcio (1959), as depressões, o cão Ulisses, o trágico incêndio de 1966 (adormeceu a fumar), a mão inutilizada, a doença e, na véspera de completar 57 anos, a morte por cancro nos ovários. Como disse Paulo Francis, Converteu-se na sua própria ficção. Moser não descura a obra — romances, contos e crónicas —, analisada sob vários ângulos, por vezes em close reading, desde o abalo causado pelo primeiro livro, Perto do Coração Selvagem (1943), autêntico sismo na ficção escrita em português. Mas também os sobressaltos editoriais, a recepção crítica, as traduções, os encontros e desencontros, rumores e mal-entendidos. Uma vida. Além de índice remissivo, o volume inclui 60 páginas de notas, bibliografia e portfolio fotográfico.» [a partir do blogue Da Literatura, 22/2/2018]

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