26.2.16

Sobre A Casa em Paris, de Elizabeth Bowen





«Como sabemos, “os encontros que não se concretizam revestem-se de um carácter próprio. Perduram tal como estavam planeados.” A desilusão de Leopold será preenchida (talvez fantasiosamente?), na segunda e mais extensa das três partes do romance, por uma luminosa analepse, que nos fará recuar dez anos e avistar Karen, numa certa manhã de Abril, a bordo de um navio que demanda Cork. É a mãe de Leopold (ou virá sê-lo).
Leremos uma história breve, e finalmente trágica, de amantes com dinheiro mas infelizes. Magnificamente contada. Como se, no trânsito entre melancólicas estâncias balneares das duas margens da Mancha, Henry James desse a mão a Marguerite Duras.
Romance de chegadas e de partidas, de estranhamentos e ausências, de trânsitos e travessias, A Casa em Paris (publicado originalmente em 1935) lembra-nos que a vida passa “muito depressa, como uma peça de teatro sem intervalos”. Umas vezes faz-nos sentir como “um cão numa casa onde tudo está a ser encaixotado para mudança”. Outras, um “navio feliz por não ir a lado nenhum”.» [Mário Santos, Público, ípsilon, 26-2-2016]

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