21.8.15

Sobre O Separar das Águas e Outras Novelas, de Hélia Correia





«O Separar das Águas e Outras Novelas dá a ler (ou reler) o primeiro livro de Hélia Correia, a novela que dá título à recolha (1981), além de Villa Celeste (1985) e Soma (1987). Em qualquer uma destas ficções, sobressai a capacidade de aliar o cuidado da palavra à economia do dizer. A sua escrita oscila entre a modernidade em que a autora claramente se insere e o passado da tradição. O que é sensível numa linguagem isenta da pretensão de novidade, no que esta tem de fugaz e excessivo; como nos temas, tantas vezes procurados no mundo recolhido das pequenas comunidades. É o caso da novela O Separar das Águas, que descreve a localidade de Vilerma. Contudo, esse tipo de enquadramento permite, ainda, à escritora retratar, sem mimetismos excessivos, tensões sociais, epocais e de género. Neste caso, a jovem República, a persistência da memória do regime anterior, a (quase) omnipresença religiosa e as inevitáveis clivagens de uma sociedade fechada e calcificada na sua estratificação. A “novela ingénua” Villa Celeste deixa deliberadamente por resolver as tensões que habitam grande parte da obra de Hélia. Entre o introspectivo e o que se abre ao mundo, entre o naturalista e o maravilhoso, esta novela decide o seu lugar precisamente na fronteira. Talvez por isso possamos ler do “fim da história que não acaba aqui”. Porque esta ficção existe algures onde acaba o irreal e começa a realidade recriada na escrita. É o que sucede em Soma, onde planos opostos se interrogam e uma personagem (António) “lutara contra os dois mil anos anteriores”.» [Hugo Pinto Santos, Time Out, 12-08-2015]

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