9.4.15

Sobre Um Diário de Preces, de Flannery O’Connor





«A escritora norte-americana Flannery O’Connor (Savannah, Geórgia, 1925-64) manteve o “diário de preces”, que deu origem a este livro, na Universidade de Iowa, onde ingressou em 1946 e onde frequentaria o Iowa Writers’ Workshop. O motivo principal do diário, agora editado pela Relógio D’Água com tradução de Paulo Faria e prefácio de Pedro Mexia, são as aspirações literárias da jovem Flannery, à época com 21 anos. A mundanidade do seu motivo desperta em Flannery uma forma do pudor da qual as preces são ou a penitência, ou o testemunho.
Reservadas as devidas distâncias, as preces de Flannery são análogas a epístolas de um aspirante a um escritor honorável que não chega a responder-lhe. Perante tal figura, Flannery envergonha-se do ridículo de desejar vir a ser alguém. O ridículo não parece estar no conteúdo da aspiração, uma vez que desejar ser escritora pode revelar-se a forma que lhe coube de fazer da sua vocação um instrumento de Deus, radicando, pelo contrário, na mesquinhez inerente a qualquer súplica. Reduzidos a preces e a escrever, não nos podemos eximir de, no decurso das nossas súplicas, incorrermos nas falhas de que elas aspiram ser a purga.» [Djaimilia Pereira de Almeida, Observador, 29-3-2015]

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