23.6.14

Sobre A Nave dos Loucos, de Katherine Anne Porter






«A Nave dos Loucos, exemplo “imperfeito” e exaltante do modernismo na literatura, é uma “monstruosidade” que retrata um tempo de deformidades morais, cívicas, políticas e sociais. Os seus intervenientes, aprisionados num navio — o que remete para o sanatório de A Montanha Mágica, de Thomas Mann, com a mesma atmosfera claustrofóbica —, são empurrados, num espaço sem referências como é o oceano, para um final (uma “chegada”) trágico e inexorável. Porter estilhaça sistematicamente a narrativa e persegue, como uma câmara de filmar desgovernada, as várias personagens, à medida que revela o que elas fazem, vêem e pensam. (…) Todo o romance funciona como uma alegoria da perene vulnerabilidade e da imparável loucura dos seres humanos — não existe uma única personagem que seja heróica, gloriosa, exemplar — centrada numa altura específica, a da escalada dos regimes totalitários. A viagem é uma travessia marcada pela incerteza, mas o que espera os viajantes é a danação e não a salvação.» [Helena Vasconcelos, Público, ípsilon, 20-6-2014]

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