25.6.14

A chegar às livrarias: Ao Volante pela Cidade: Paulo Mendes da Rocha, de Manuel Graça Dias





«Conheci Paulo Mendes da Rocha em 1987, em São Paulo, era ele Presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil.
Ficámos amigos muito depressa. Lembro-me de ter ido a sua casa num sábado, ao fim da manhã, para almoçar, com o pretexto de, em seguida, vermos algumas obras relevantes na cidade (suas também, que eram as que já então mais me apetecia conhecer).
Era noite ou crepúsculo em São Paulo quando nos despedimos e eu fiquei, desde então, ligado a este homem, às suas lições de vida e de arquitectura, preso à serena discordância com que enfrentava o mundo mais grosseiro que nos cerca a todos, como respondia e construía um discurso de firme resistência e radicalidade com a bonomia de gostar da vida, das pessoas, dos prazeres da vida.
Em Junho de 1999, numa das suas passagens por Lisboa, convidei-o para um “passeio” muito específico. Fazia eu, nessa altura, um programa radiofónico para a TSF, “Ao volante pela cidade”, no qual entrevistava arquitectos, ao sabor do que se ia vendo através de uma viagem de automóvel em que eu conduzia, por ruas e troços de cidade que, na generalidade, os convidados me iam indicando.
Consistia o desafio principal do modelo, em conseguir fazer compreender aos ouvintes aquilo que ia desfilando pelo nosso olhar em movimento.
Paulo Mendes da Rocha aderiu, entusiasmado, ao desafio, e fui eu, o entrevistador, desta vez, a guiar o entrevistado ao longo de várias ruas, praças, largos, becos, mas também vias rápidas, pedaços mais antigos, estabilizados, ou, pelo contrário, mais recentes de Lisboa, no sentido de lhe ir ouvindo as reflexões ou de lhe provocar os comentários.
Beneficiando da razoável fluidez de mobilidade automóvel de um feriado em Lisboa (gravámos esta conversa a 3 de Junho de 1999, dia de Corpo de Deus nesse ano), a variedade do material recolhido foi emitida, depois, durante três programas distintos.
Percorri os mesmos lugares, mais de dez anos depois, procurando fotografar pontos de vista semelhantes àqueles que em 1999 tinham provocado as observações de Paulo Mendes da Rocha; a paisagem da cidade, em mutação lenta, ofereceu pouca resistência e pude cumprir com relativo sucesso o objectivo de fazer acompanhar o essencial do que foi sendo dito com as imagens que o motivaram, praticamente nas mesmas condições de luz e Primavera quente, na mesma aproximação de cidade semideserta, no mesmo intervalo rápido da quase manhã que memorizara.
Acabei também, de novo, a beber café e águas no quiosque do Jardim das Amoreiras, uma deliciosa “providência para acautelar o desastre”!»

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