21.6.13

Machado de Assis (21/06/1839 – 29/09/1908)





«O maior escritor da América Latina.» [Susan Sontag]



Memórias Póstumas de Brás Cubas e o Quincas Borba são dois dos principais romances de Machado de Assis unidos por uma personagem comum. Nesta fase, a prosa de Machado de Assis (1839-1908) distingue-se pela ironia, o modo como interpela os leitores e por evitar o realismo «implacável e lógico» que ele criticou em O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós.
Ao cepticismo distanciado de Memórias Póstumas de Brás Cubas segue-se, seis anos depois, em Quincas Borba, a credulidade romântica de Rubião, humilde professor tornado rico por herança de filósofo e perdido no Rio de Janeiro e na Corte em busca de emoções. Rubião é fascinado por Sofia e enganado pelo marido desta, Cristiano Palha, que transforma a mulher em instrumento da sua ascensão burguesa. Mas Sofia não tem a audácia de uma Bovary, nem sequer a desenvoltura da Luísa de O Primo Basílio e Rubião naufraga nas esperanças perdidas.
Se Memórias Póstumas de Brás Cubas deixa um rasto de lúcida diversão que evita a tragédia, Quincas Borba mergulha na irreversível loucura do seu personagem. Rubião parece destinado a ilustrar a teoria do filósofo Quincas Borba, resumida na frase ao vencedor, as batatas. Neste romance cuja acção decorre entre 1867 e 1870 são visíveis os reflexos dos acontecimentos da época, desde a guerra do Brasil com o Paraguai ao esplendor e queda de Napoleão III, com quem Rubião se identificaria.


 

Dom Casmurro foi publicado em 1899. A subtileza dos seus protagonistas e o seu carácter contraditório é tal que ainda hoje os críticos brasileiros discutem se Capitu «traiu» ou não o marido.
A este livro aplica-se o que escreveu Afredo Bosi, que considerava que Machado de Assis dissolvia «paixões e entusiasmos no ácido de uma ironia e um humor que nada poupam: indivíduos e sociedade são aí “delicadamente” desmascarados em seu egoísmo e alienação».
Esaú e Jacó, publicado em 1904, é o penúltimo livro de Machado de Assis e distingue-se por uma maior organicidade narrativa, sem abandono das intenções modernistas do autor que o levaram a subverter a forma tradicional do romance. Um dos seus principais personagens é o conselheiro Aires que irá ressurgir em Memorial de Aires. Também em Esaú e Jacó a narrativa é subvertida, o fundo histórico está presente e os homens e as mulheres não são feitos de uma matéria única embora abundem as referências míticas. Como escreve Júlio Castanõn Guimarães: «o humor irónico quase constantemente se vincula a uma reflexão sobre a narrativa, quando esta, voltando-se sobre si, desmonta sua própria estruturação. Surge aí a oportunidade do discurso de aparência reticente, que avança por retrocesso, faz-se, desfaz-se e refaz-se. Enquanto isso, aqui e ali, o romance se pontua com referências a factos históricos. Assinalados astuciosamente como que em pano de fundo, surgem a lei Rio Branco, a abolição, a questão militar, o baile da ilha Fiscal, a proclamação da República, o encilhamento, numa verdadeira marcação temporal externa. Internamente ao romance, no entanto, esses factos em nada ou quase nada alteram a vida dos personagens, ao nível das acções pelo menos, assim se ressaltando, estrategicamente, sua alienação, dentro da mesma perspectiva irónica que desvenda o percurso da narrativa.»

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