No
suplemento ípsilon do Público de 31 de Agosto, Rui Lagartinho
escreve sobre Infância, Adolescência e Juventude, de Lev Tolstói:
«O
narrador chama-se Nikolai como o autor, mas desde o início que não é seguro que
as duas peles estejam coladas. Tolstói faz deste seu primeiro livro um enorme
balão de ensaio de um estilo e de uma voz própria. Procura uma disciplina,
tenta afirmar uma independência de espírito através da autocrítica e da prática
da introspecção dos seus variados e mutantes estados de alma. Oferece-se a si
próprio a liberdade suprema de injectar ficção num texto que segue as regras da
autobiografia sem o ser.»
No
mesmo suplemento, Helena Vasconcelos escreve sobre Oficiais e Cavalheiros,
de Evelyn Waugh, segundo volume de uma trilogia cuja primeira parte (Homens em Armas) será em
breve editada pela Relógio D’Água:
«Waugh
afasta-se decisivamente do idealismo de, por exemplo, Rudyard Kipling e Rupert
Brooke, que exaltaram fervorosamente a “grandeza” dos combatentes e das batalhas em que a “honra” e a “glória” eram ponto de ordem (…), concentrando-se, tal
como [Joseph] Heller, no absurdo da burocracia militar, na falta de preparação
de muitos líderes, na banalidade da morte e no caos que se instala num sistema
que, à partida, se pretende rigoroso e eficaz. (…)
Estes
“heróis” perdem a sua aura para se revelarem simples seres humanos, sujeitos às
emoções mais banais, num confronto cujo absurdo é magistralmente aproveitado
pelo autor, que aqui, como fez notar o crítico George McCartney, mostra que
pouco lhe interessava corrigir comportamentos pouco éticos, à maneira dos
satiristas tradicionais, mas antes atacar com vigor “as certezas culturais e
metafísicas do seu tempo”.»
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