«O “mito Lizzie” declina-se em algumas palavras: beleza romântica e doentia, inclinações mórbidas, atracção pelo decadente, destino trágico e transgressão dos códigos a que as mulheres estavam sujeitas (e, neste sentido, há nela um princípio de afirmação feminista longamente explorado no romance de Hélia Correia). Ela é uma presença misteriosa e espectral, vinda de uma zona de trevas que não é contemporânea do seu tempo. Daí a atracção que exerce sobre aquele grupo de tard venus (mas, ao mesmo tempo, vanguardistas), fascinados pelas fantasmagorias da história. No romance de Hélia Correia, a doença é mais do que um leitmotiv, é um acontecimento (daí, o infinitivo do título: “Adoecer”) que emerge como uma verdadeira personagem, o sujeito de uma narrativa. Na beleza e na doença (as duas coisas estão intimamente ligadas), Lizzie representa um ideal feminino (…). Ela é, em sim, uma personagem romanesca, eminentemente literária. E é esta dimensão que surge aqui explorada exaustivamente.»
(António Guerreio, Actual, 24 ABR)
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